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11/ 12/ 2020

Irmãos restauram lancha do Rei, constroem e doam maquete para o Museu Pelé

Quem investiria quase R$ 100 mil na restauração de uma lancha praticamente destruída, ano de fabricação 1969, que nunca mais chegará perto da água? Pois os gêmeos paulistanos Leandro e Danilo Iakimoff, de 40 anos, não pensaram duas vezes para comprar, 14 anos atrás, por cerca de R$ 10 mil, a lancha Kelly Cristina que um anúncio de jornal dizia ter pertencido a Pelé.

Batizada com o nome da primogênita do Rei, essa preciosidade de colecionador poderá ser apreciada, em breve, pelos visitantes do Museu Pelé, que nesta quinta (10) recebeu uma maquete fiel da embarcação, confeccionada pelos gêmeos. A peça, recebida por Paulo Monteiro,  coordenador do museu, será tombada pela Prefeitura e integrada ao acervo do museu.   

Curiosamente, os irmãos não torcem para nenhum time e nem são muito ligados a futebol. “Somos do time Pelé”, divertem-se os irmãos, que conhecem as jogadas fenomenais do Rei apenas pela internet – eles nasceram três anos depois que o atleta do século 20 despediu-se do futebol, em 1977.

A maquete, na escala 1:10 (10 vezes menor do que a lancha), representa 30 dias de trabalho de Leandro, arquiteto de profissão, que inutilizou três outras peças antes de chegar à definitiva. “Apesar de estar acostumado a fazer maquetes, a Kelly Cristina foi um grande desafio, porque respeitei inclusive os defeitos da lancha. Tem até as manchas.”

A peça foi produzida em cedro e o casco, de peroba do campo, reproduz a técnica escamada, utilizada na construção do barco. “Tenho o maior prazer em pegar pedaços de madeira e transformá-los em uma obra de arte”, frisou Leandro.

KELLY CRISTINA - Durante dois anos, a lancha permaneceu em um sítio da família, em São Bernardo do Campo, seguindo depois para o Pier 26, em Guarujá, em espaço cedido pela proprietária Tereza, ao saber do ex-proprietário ilustre. “Vários amigos ajudaram financeiramente nessa empreitada”, reconhece Danilo, que destacou a participação de Ronald Bremberger.

Construída com requintes no estaleiro Carbrasmar (Rio de Janeiro), com madeira cortada de acordo com fases da lua, a lancha, até hoje de excelente navegação, foi restaurada por um marceneiro contratado no Sul. “Complicado foi recuperar o casco e o espelho da popa, porque havia muita madeira apodrecida, afirmou Danilo.” Dondinho, pai de Pelé, foi quem mais aproveitou a lancha, que mantém as marcas do corte e limpeza dos peixes fisgados por ele.

Há cerca de quatro anos, Danilo, como bom comerciante, acabou aceitando a proposta de um amigo e vendeu a lancha. “Mas me arrependi e há um ano comprei de volta. Paguei muito mais, mas agora estou feliz.” Advogado, ele largou o escritório e passou a dedicar-se ao comércio.

Seu primeiro investimento foi justamente a lancha que pertenceu a Pelé. “Nós crescemos no barco do nossos pais,” afirmou ele, que não pretende reviver histórias da infância na Kelly Cristina. “Temos muito carinho por essa lancha e vamos preservá-la”, garantiu.

 

FOTO: Rosangela Menezes

 

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