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2/ 03/ 2022

Museu Pelé, no Centro Histórico de Santos, é uma viagem pela vida do Rei

 

Das histórias mais registradas do mito a momentos históricos e até passagens inusitadas. Você pode conhecer tudo isso em uma visita ao Museu Pelé, no Centro Histórico de Santos. Nem precisa ser fã do Atleta do Século ou do Santos Futebol Clube, menos ainda amante do futebol para se deliciar com o passeio e descobrir por que Pelé virou celebridade quando redes sociais e influencers não existiam nem em livros de ficção científica. 

Distribuídos em três andares dos antigos Casarões do Valongo, há um acervo que resgata parte da vida de Edson Arantes do Nascimento, antes de ser Pelé. Tem a chegada dele ao Peixe e toda a construção de uma carreira de glórias a partir daí.

Tudo isso está dividido em dois momentos. Num deles, os fatos são resgatados em duas exposições que podem ser conferidas até o final de março. Em ‘O início da Lenda - Pelé sob o olhar do fotógrafo José Dias Herrera (1920-2010)', o flagra de um Pelé adolescente, que se apresentou, aos 15 anos, no Santos FC. Uma das poucas fotos da época, garantida pelo olhar de Herrera,

único a eternizar esse momento. “Foi a primeira exposição totalmente feita pela equipe do Museu Pelé, usando acervo 100% próprio”, conta o diretor do museu, Paulo Monteiro.

As fotos estão em painéis com três metros de altura, como a do Camisa 10 ao lado do grande ídolo dele, Zizinho - craque dos anos 1940 e 1950 - e também de Ademir Menezes, também conhecido como Ademir Queixada. 

Outros registros mostram viagens feitas pelo Peixe à Itália, à Espanha e ao Marrocos. “O Santos se tornou o clube mais conhecido do mundo e o Pelé a pessoa mais famosa mundialmente em uma época que não existia internet, a comunicação era precária e pouca gente tinha TV”, acrescenta Monteiro. Há ainda fotos digitais (mostradas em looping, em um aparelho de TV).

A segunda exposição, chamada Pelé 80 anos, é uma coletânea de quadros feita por artistas da região e de São Paulo, que apresentaram uma leitura própria sobre o Rei.

No espaço, destacam-se ainda foto da Revista Manchete representando o milésimo gol, uma camisa autografada pelo Rei, em 2019, alusiva às comemorações dos 50 anos do milésimo gol, e suas pegadas na calçada da fama do museu.

Do outro lado do Museu, encontram-se as obras que fazem parte do acervo permanente do equipamento,  inaugurado em 2014. O visitante confere a linha do tempo de Pelé, começando com ele pequeno, morando com a família em Bauru, no Interior do Estado. Desse momento, há a caixa de engraxate que ganhou de um tio e um cofrinho.

“Ele teve uma infância difícil. O tio dele fez a caixinha para ele engraxar os sapatos das pessoas na estação de trem. Com isso, juntava uns trocados que colocava no cofrinho”, diz Monteiro.
Tem ainda o rádio seu Dondinho, onde ouviu os jogos da Copa de 1950. “Dizem que Pelé entrou em casa e viu o pai chorando ao lado do rádio porque o Brasil tinha perdido a Copa para o Uruguai. Ele, então, teria dito: “pai não fica triste, vou trazer uma Copa do Mundo para o senhor. E, oito anos depois, Pelé ganhou sua primeira Copa”.

Há o registro da assinatura do primeiro contrato com o Santos FC e a  réplica do documento. Tem Pelé, já campeão do mundo, morando em uma pensão e fazendo o próprio café. Tem ainda, a passagem pelo Exército, aos 18 anos. "Dizem que foi em Praia Grande, mas foi em Santos. Na época, o Grupo de Artilharia de Costas Motorizado ainda estava na Rua Luiz de Camões, atrás do Clube Atlético Santista, depois foi para Praia Grande”.

Há o gol considerado mais bonito da carreira, contra o Juventus, em 1959, na Rua Javari. “O próprio Pelé considera seu gol mais bonito. Ele encobriu três jogadores, o goleiro e concluiu de cabeça. Aqui temos a hora da cabeçada”, relembra o diretor do museu.

Sim, a placa está exposta. Pelé ganhou o presente em um jogo contra o Fluminense, em 1961, no Maracanã, após fazer um gol considerado genial pelo jornalista Joelmir Betting, que na época cobria o setor de Esportes. “Ele falou: esse gol merece uma placa e providenciou duas: uma está na entrada do Maracanã e outra aqui. Daí veio a expressão Gol de Placa”.

É possível ver ainda o registro do então senador norte-americano, Robert Kennedy, que assistiu ao jogo Brasil x Rússia, no Maracanã, em 1965, e fez questão de cumprimentar Pelé ainda no vestiário. O Rei saiu do banho para recebê-lo.

Pelé recebeu a chave da cidade e uma coroa de louros, em Belo Horizonte, em uma partida contra o Atlético Mineiro - a primeira após o milésimo gol, em 1969. “Essa coroa de louros, que é de latão dourado, pertenceu a um dos ministros que redigiram Lei Áurea e teria sido feita pelo mesmo ourives que fez a coroa de D.Pedro II”, conta Monteiro.

O Pelé estudante de Educação Física, em Santos, e o momento da sua formatura também estão em destaque no museu.

Há ainda o momento em que ele foi recebido  pelo secretário de estado americano e apaixonado por futebol, Henry Kissinger. Ele articulou a ida do Rei para os Estados Unidos para atuar no Cosmos. Na foto, está ainda o presidente dos Estados Unidos na época, Jimmy Carter, que deu uma bola autografada para o Rei.

O Museu tem os três certificados do Guinness Book que Pelé ganhou. O primeiro como o maior artilheiro da história do futebol, com 1.283 gols. Tem ainda o certificado como o jogador brasileiro mais jovem a participar de uma copa e o último como o único a vencer três Copas do Mundo.

Há também a réplica do troféu de Atleta do Século e a Bola de Ouro - prêmio oferecido ao jogador do ano pela revista francesa France Football - que ele só ganhou em 2014. Na época, só podia concorrer jogador europeu. Depois mudaram a regra e participava quem jogava na Europa, então Pelé nunca concorreu. “Em 2013, fizeram uma reavaliação, verificando como seria o resultado se houvesse a liberdade que existe hoje para essa escolha. Ele teria vencido nada menos que sete vezes”.

O passeio no andar térreo termina com um painel com 200 metros quadrados apresentando, em ordem cronológica, os gols mais importantes da carreira do Rei. A obra é do artista Seri. 

Nos outros andares, tem a exposição chamada Quatro Copas e um Rei, que conta a história das copas que o Atleta do Século participou entre 1958 e 1970. Entre os destaques estão uma TV Verde e Amarela que ganhou como prêmio pela Copa do Mundo de 1958.

A réplica da camisa que o Brasil jogou na final contra a Suécia também está lá. Foi a primeira vez que a seleção entrou em campo de azul. “A Suécia também tem uniforme amarelo. Foi feito um sorteio e o Brasil perdeu. Então era preciso arranjar um outro uniforme”, conta Paulo Monteiro.

Segundo o diretor do museu, o chefe da delegação Paulo Machado de Carvalho mandou comprar camisas azuis, porque era a cor do manto de Nossa Senhora. “E passaram a noite bordando o escudo da CBD e os números das camisas. Assim, o azul passou a ser o segundo uniforme da seleção”.

Em 1970, Pelé jogou a última copa e a única que disputou do começo ao fim. “Uma curiosidade, foi em 1970 que introduziram os cartões amarelo e vermelho, porque na final da copa de 1966 houve controvérsia entre Argentina e Inglaterra e o juiz não falava espanhol. Para regularizar a situação, criaram os cartões como linguagem universal e as substituições”.

Depois de ficar craque sobre a carreira do Rei, o visitante pode degustar um lanche na cafeteria que fica na entrada do museu e ainda levar para casa lembranças que remetem à carreira de Pelé. Camisas e outros objetos são vendidos na loja em frente à cafeteria.

O Museu conta com audio guide, sistema que permite a descrição do passeio com uso de dispositivos eletrônicos e digitais com recurso de voz. Há ainda diversas passagens da vida do Rei veiculadas em vídeo.

O Museu Pelé fica no Largo Marquês de Monte Alegre, 1, Valongo. O funcionamento é de terça a domingo, das 10h às 18h. A entrada é de graça.

 

Imagem: Francisco Arrais.

 

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