Notícias
14/ 04/ 2025
Interesse pela história de personalidades marca visita noturna guiada a cemitério de Santos
Medo de fantasma? Que nada. A curiosidade e o interesse pela história de personalidades santistas enterradas no Cemitério do Paquetá foram o que prevaleceu na noite deste sábado (12), durante visita noturna guiada com a participação de cerca de 170 pessoas.
Chamado de ‘Luz e Sombra: Um Tour pelo Cemitério do Paquetá’, o roteiro começou no cair da tarde, ainda com claridade natural, e terminou sob a lua cheia, que brilhava naquela noite com o auxílio dos postes de iluminação das alamedas da necrópole.
As informações aos visitantes noturnos foram detalhadas por uma equipe especializada, composta pela coordenadora de Cemitérios (Cocem), Elen Miranda, e pelo chefe de área da necrópole, Carlos Eduardo da Cruz, acompanhados do secretário municipal de Prefeituras Regionais, órgão responsável pelas necrópoles, Rivaldo Santos. O destaque do detalhamento ficou por conta do escritor Thiago de Souza, responsável pelo canal no YouTube “O que te assombra” e membro da Associação Brasileira de Estudos de Cemitérios.
Sob flashes de celulares, registrando as obras de arte presentes nos túmulos, os visitantes puderam verificar tanto onde repousam personalidades das áreas políticas, esportivas e culturais, quanto locais que são símbolos de fé.
PERSONALIDADES
Do meio político, tiveram destaque as sepulturas do ex-governador e da ex-primeira-dama de São Paulo, Mário Covas e Lila Covas, que também guarda o seu neto Bruno Covas, ex-prefeito da Capital; do senador abolicionista Galeão Carvalhal; e do vereador Aristóteles Ferreira. E uma coincidência chamou a atenção dos presentes em um dos mausoléus: a visita ocorreu na data de nascimento de Esmeraldo Tarquínio, prefeito eleito de Santos cassado pela ditadura militar, que, se fosse vivo, completaria 98 anos.
“Sou estudiosa das coisas com interesse político. Conheci Mário Covas e Dona Lila. Cantei muito em barzinhos com Esmeraldo, que foi cassado pelo AI-5 (Ato Institucional número 5, o mais duro da ditadura brasileira), que foi impedido de assumir a Prefeitura e o (Oswaldo) Justo, então vice-prefeito (depois eleito democraticamente após o regime de exceção) não quis assumir o lugar dele (por não concordar com a cassação)”, recordou a servidora Valentina Rezende, de 72 anos, moradora do Gonzaga. “Muito bacana esse movimento, eu não conhecia o instrutor Thiago, mas a experiência está sendo muito interessante, coincidindo com as pesquisas que eu tenho feito de simbologia tumular”.
Personalidades da cena artística como o famoso pintor Benedito Calixto e o radialista e apresentador de tevê Bolinha também foram alvo da curiosidade do público, assim como os poetas Vicente de Carvalho, advogado, jornalista e político, e Martins Fontes, médico renomado na Cidade.
Da área esportiva, o Paquetá também abriga os túmulos da nadadora Renata Agondi, morta na tentativa de atravessar o Canal da Mancha, e Athié Jorge Coury, presidente do Santos Futebol Clube nas conquistas da Era Pelé.
Histórias como a de João Gomensoro Wandenkolk, primeiro-tenente da Marinha que morreu durante a Guerra do Paraguai, prenderam a atenção dos visitantes. Não exatamente por ser considerado um herói de guerra, mas por seu túmulo ser um lugar de peregrinação, afinal, o oficial é tratado como “Marinheiro Milagreiro”. Assim como este, o altar em homenagem ao chamado Sr. Tranca-rua das Almas, que recebe flores e oferendas com regularidade.
HÁBITO
Todas as curiosidades que envolveram a vida desses e outros personagens atraíram a atenção dos inscritos para a atividade. Foi o que motivou a participação de Rodrigo Prol Rei, de 45 anos. Ele já tinha participado de visitas monitoradas ao Cemitério da Consolação, em São Paulo, e quis saber mais sobre as histórias das pessoas que estão sepultadas no Paquetá.
“Eu tenho esse hábito de visitar cemitérios. Encaro como um museu, isso me atrai muito. Gosto de conhecer as obras de arte, ver as fotos das pessoas, porque eu fico imaginando como é a época em que elas viviam. O Cemitério do Paquetá tem muita cultura antiga, gente que morreu há muito tempo. E aqui tem um senso de preservação, de memória”, explicou Rodrigo.
Alessandra Dias Papine Barreto, de 32 anos, moradora do Embaré, levou a irmã e duas sobrinhas para conhecer detalhes sobre quem repousa no mais antigo cemitério de Santos. Advogada, conheceu o instrutor Thiago por um canal que retrata crimes no YouTube. “Vi que o tour ia ser com ele e resolvi vir. Aí, coloquei no grupo da família no WhatsApp, e quiseram vir. Não têm medo, são corajosas. A minha avó frequenta bastante cemitério, então, como fomos criadas por ela, a gente vê com muita normalidade”.