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31/ 01/ 2022

Bonde Reboque 1 volta a circular na linha turística de Santos

 

Na semana do aniversário de 476 anos de Santos, um patrimônio que simboliza uma era histórica da Cidade volta à ativa, o Bonde Reboque 1. A partir deste sábado (29), o elétrico retoma operação na Linha Turística do Bonde, após minuciosa reforma que preservou suas características originais, com renovação da estrutura.

O veículo é um exemplar genuinamente santista, fabricado pelo antigo Serviço Municipal de Transporte Coletivo (SMTC), há mais de 60 anos, como réplica do primeiro bonde a circular na Cidade, em 1875, para transporte de carga.

O retorno aos trilhos se dá com a acessibilidade ampliada. Agora pode transportar dois cadeirantes, quando antes comportava apenas um - a capacidade geral do carro é de 24 passageiros.
A complexa empreitada envolvendo reboque 1 é mais um trabalho com a assinatura da equipe especializada da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Santos). A empresa é responsável pela reforma/restauro, manutenção e operação dos bondes da linha turística.

Nas reformas anteriores, o reboque 1 recebeu várias adequações, ganhando rampa para acessibilidade e freios a ar comprimido para maior segurança, entre outras melhorias. Desta vez, teve a parte estrutural totalmente refeita. Para isso, foi praticamente desmontado, num processo que exigiu o máximo de cuidado e atenção, para conhecimento em detalhes da engenharia do veículo.

“Com a análise de cada parte desmontada e pesquisas sobre a época da fabricação e as técnicas utilizadas então, pudemos apurar que se trata de uma réplica construída na década de 1960, em que foram utilizadas peças originais de reboques das décadas 1920 e 1930”, revela o engenheiro Marcos Rogério Nascimento, gerente de manutenção e serviços da CET e coordenador da equipe.

O desmonte, associado às pesquisas, permitiu reproduzir fielmente a estrutura do veículo, refazer peças e até desenvolver outras. 'Um exemplo foi que criamos uma nova peça para fixação das colunas dos bancos, o que vai dar mais estabilidade ao carro. Por isso, essa etapa toda se deu de forma muito cuidadosa e tudo com registro de fotos”, destaca ele.

E comenta: “São detalhes que o passageiro não percebe, mas que trazem ganhos para a segurança e também no que se refere à manutenção e preservação do bonde”.

A cada etapa de desmontagem, surpresas e desafios surgiam, como quando da remoção do forro da antiga capota, com a descoberta da madeira original entalhada. “Analisamos tudo e fizemos uma nova, exatamente igual à antiga”, conta o marceneiro Vander Raitz. Num processo artesanal, houve a confecção de uma ferramenta para a reprodução dos mesmos desenhos encontrados na velha cobertura.

Apontando para a capota recém-refeita, ele não esconde o orgulho pelo resultado geral da renovação do carro. “Foi tudo muito trabalhoso”, diz ele, que esteve à frente de outros projetos de reforma e restauro de bondes da linha turística.

Na remontagem, o reboque ganhou novo assoalho, vigas de sustentação, bancos e acessórios de acabamento. Estrutura refeita, o veículo voltou à garagem dos bondes, no Valongo, onde outros profissionais da equipe entraram em ação para realizar a pintura e os acabamentos.

A reforma iniciou em março de 2019 e, além do trabalho detalhista que demandava tempo, seu andamento foi prejudicado pela epidemia de covid-19.

Foi em 1871 que circulou o primeiro bonde em Santos, para serviços de transporte de cargas – os veículos para passageiros vieram em 1875. O sistema funcionou na Cidade por quase 100 anos e foi extinto como modal de transporte coletivo há 50.

Em princípio, os modelos reboque eram puxados por tração animal. Com o advento dos carros elétricos, passaram a ser atrelados a outro bonde e foram muito utilizados pelos operários da Cidade, pois tinham tarifa mais barata.

Em setembro de 2000, a Prefeitura criou a Linha Turística do Centro, que passa por diversos pontos de interesse histórico e cultural, em roteiro com monitoria de guia de turismo. Os elétricos em operação remontam ao início do século 20 e são procedentes de diversas partes do mundo. Os veículos que operam na linha turística fazem parte do Museu Internacional de Bondes de Santos, cujo acervo total soma 13 veículos. São carros de origem brasileira e de outras nacionalidades como Portugal, Itália e Japão.

O passeio de bonde custa R$ 7 (ingresso comprado na cafeteria do Museu Pelé). Há isenção para crianças até 5 anos, desde que no colo, e guias de turismo em monitoria de grupo. O desconto de 50% vale para maiores de 60 anos, professores e estudantes. Pagamentos somente em dinheiro. A atração funciona de terça a domingo, das 11h às 17h.

 

Imagem: Nathalia Filipe.