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13/ 11/ 2019

Pelé relembra medo e emoções na comemoração dos 50 anos do 1.000º gol

Pelé abriu o coração, confessou medos, compartilhou emoções e emocionou-se ao relembrar histórias envolvendo o 1.000º gol, que completa 50 anos no próximo dia 19. Durante oito horas, na terça (12), ele recebeu amigos, autoridades, e a imprensa nacional e estrangeira na Sala do Rei, no Museu Pelé, onde ganhou duas placas comemorativas à histórica marca; um quadro da Setur (Secretaria de Turismo) com ilustrações das principais jogadas, entre 1956 e 1977, do atleta do século 20, de autoria de Sérgio Ribeiro Lemos, o Seri, e autografou mais de 100 camisetas e livros.

   

Ainda entre as lembranças recebidas, três imagens inéditas da partida não televisionada entre Santos e Botafogo, em 21 de novembro de 1964, que terminou com o placar de 11 a 0 para o alvinegro, oito dos quais marcados por Pelé.

 

O registo, de um total de 88 imagens inéditas, foi feito pelo fotógrafo José Herrera, falecido em 2010, o primeiro profissional da imprensa a registrar o jogador no Santos Futebol Clube e o com maior acervo sobre o Rei. As três cópias foram entregues pela neta Sílvia Herrera.

 

A emoção bateu mais forte ainda ao ver entrar na Sala do Rei os jogadores Abel, Clodoaldo, Dorval, Joari, Lalá, Lima, Maneco, manoel Maria, Mengálvio, Negreiros, Nenê e Pepe. “Até chorei escondido. Eles quase me mataram”, afirmou, brincando ter resistido por seu um homem de três corações, alusão ao fato de ser natural dessa cidade mineira.

   

Responsabilidade

Pelé diz ser impossível esquecer o que passou às vésperas de emplacar o 1.000º gol. “Fiquei uma noite sem dormir, pensando... e se não acontecer, meu Deus do céu? O sofrimento que foi, a responsabilidade de não jogar mal, de fazer o gol... Ter o primeiro filho não teve tanta preocupação.”

   

Ele diz ter se questionado inúmeras vezes sobre esse momento: “Por que teve que ser de pênalti? Parou tudo. Todo mundo começou a gritar Pelé. Eu já estava nervoso. Arrumei a bola e, quando olhei para trás, estavam todos os jogadores perfilados, de mãos dadas. As pernas tremeram. Ai, meu Deus, não posso perder,” rememora.

   

E, de pé direito, no canto esquerdo do goleiro argentino Andradas, marcou o segundo gol na vitória santista sobre o Vasco, que balançou apenas uma vez a rede do Maracanã, perante um público de 70 mil espectadores - o time carioca abriu o placa, mas o alvinegro empatou com René.

   

“Acho que foi o gol mais difícil da minha vida, porque eu tinha consciência de sua importância.” Se dependesse de sua vontade, entretanto, “o 1.000º gol teria saído de uma jogada bonita, de bicicleta, de cabeça”. Para ele, a camisa mais importante que vestiu foi a do Santos Futebol Clube, que tornou a cidade conhecida em todos os cantos do mundo. “Se não fosse a camisa branca, não teria tido a amarela”, frisou, referindo-se ao uniforme da seleção brasileira.

 

Crianças

Emocionado com a conquista do gol de número mil, Pelé pediu que o país, naquele momento, olhasse mais por suas crianças, lembrando de uma situação que ocorreu dias antes, quando flagrou dois garotos tentanto abrir um carro estacionado nas imediações da Vila Belmiro. E, 50 anos depois, o pedido continua valendo. “Hoje está muito pior do que naquela época. As crianças são mais bandidas, assaltam e matam.”

   

O Rei também se disse preocupado com o racismo ainda presente no futebol, comentando fatos recentes ocorridos na Ucrânia _”qualquer tipo de discriminação é ruim, mas graças a Deus tive a felicidade de nunca passar por isso, nem mesmo na Suécia, onde todos eram brancos” - e com  a situação do país – “falta coerência política,” analisou.

   

Questionado, ele diz não estar nem um pouco preocupado com a possibilidade de outro jogador vir a superar sua marca de 1.000 gols - o difícil mesmo, diz, é fazer os 1.281 que marcou em sua carreira. Pelé jogou futebol em 66 países e fez gols em 54 deles. Elogiou o técnico do Santos, o argentino Sampaoli,  disse ser importante sua permanência, mas reconhece seu assombrou com o número de estrangeiros no time, e comentou que a seleção brasileira “não é ruim”.

   

Sua maior relíquia, afirmou, é a chuteira da copa de 1958, que o pai Dondinho guardou, e que, se tivesse que escolher, escalaria Messi, atacante do Barcelona,  para jogar ao seu lado. Aos 79 anos, Pelé quer celebrar oito décadas de vida com saúde, lembrando das recentes cirurgias no quadril e dos problemas de coluna, menisco e tornozelo que enfrentou. “Ainda bem que Deus me passou a conta depois que eu já tinha parado de jogar.”

           

Pelé brinca que, “depois da Copa de 2022, talvez eu tenha a tranquilidade que eu quero ter”. Agora, afirma, ele pensa na educação dos filhos, em manter a família unida e em ter os amigos por perto. “Peço a Deus que não me abandone nunca. Quando eu for embora, ficará aqui o Pelé brasileiro. E o Edson, espero que vá para o céu,” complementou o Rei, devoto de Nossa Senhora Aparecida.